domingo, 19 de junho de 2011

Os miseráveis

A palavra que define nosso mundo atual é "transformação": de valores, das relações de trabalho, das mídias, da comunicação, das relações familiares e pessoais, da situação econômica, das posições políticas, da formação de nossos jovens. Mudanças são a única constante. E nem sempre são para melhor.
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Muda o Congresso e "ganhamos" um deputado semi-analfabeto. Os escândalos envolvendo sempre os mesmos nomes continuam inabaláveis. Outros, com novos políticos ocorrerão. Essa é uma triste certeza para os eleitores brasileiros. A maioria parece se conformar, como se a desonestidade fosse parte inerente do perfil político nacional. Sinto vergonha de quem se dessensibiliza e passa a achar "normal" tanta falta de ética e descaso com cargos que deveriam ser conduzidos com retidão e seriedade.
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Recentemente, Campinas e Sorocaba (ambas cidades prósperas no interior paulista) figuraram no noticiário nacional por razões lamentáveis. Na primeira um esquema de corrupção com verbas municipais, que resultou num processo de impeachment. Na segunda, o envolvimento de médicos (alguns renomados localmente) no desvio de verbas públicas, pagando somas altas para médicos que nem apareciam nos plantões.
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O que choca nesses casos é que pessoas que deveriam lutar pela comunidade e pela saúde de seu povo são seus algozes. Imagine a situação: você é pai (ou mãe) de uma criança. Você pega ônibus péssimos, com passagens caras, trabalha no mínimo 8 horas por dia, paga seus impostos. Com o que sobra (de tempo e dinheiro) leva a vida. Você não tem plano de saúde porque é caro. Você depende de atendimento em postos e hospitais públicos. Melhor não adoecer, mas seu filho não sabe disso. Numa madrugada fria, você sai com seu filho no colo, pega ônibus (quando tem nesse horário) e chega ao posto de saúde. Você e outros muitos aguardam um atendimento que não ocorre. A espera se prolonga, seu filho só piorando... Não há médico para atender." Onde ele está?" " Não deveria estar aqui?" Ele está onde não deveria (fora do plantão). "Meu filho está ardendo em febre! Cadê o médico?!" Ele está contando o dinheiro do plantão pelo qual recebe e não cumpre. "Mas médicos não fazem um juramento (de Hipócrates)?!". Ingenuidade achar que esses médicos têm a capacidade e o caráter para entender o comprometimento e a beleza do famoso juramento. "Mas o Conselho de Medicina não faz nada?!" Difícilmente, uma vez que estamos falando de colegas julgando colegas no pior sentido da expressão.
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Os casos citados são comprovados. O GAECO não brinca e suas ações não são levianas. O grupo só entra em ação quando têm provas e evidências. Mesmo assim, a maioria dos culpados nunca será punida oficialmente. Não serão obrigados a devolver aos cofres públicos as somas furtadas da maneira mais covarde. Pizza. Risadas ao sair da cadeia, advogados caros, amigos políticos. Vale tudo para se dar bem e escapar. Daqui um mês a poeira abaixa... O povo brasileiro é conhecido pela falta de memória.
Essas pessoas podem ocupar cargos importantes, podem ser ricas, andar em carrões. Escondem-se em condomínios de luxo. Para mim serão sempre miseráveis. E não há dinheiro capaz de suprir a pobreza de espírito.

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