segunda-feira, 16 de maio de 2011

A prática do abandono

Acordei nesta segunda com a notícia de mais um recém-nascido abandonado. Desta vez foi numa cidade da Grande São Paulo. Estava frio. O bebê, ainda com o cordão, foi deixado dentro de várias sacolas plásticas de um mercado regional. Teve “sorte”, pois foi encontrado e encaminhado a um hospital.

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Ribeirão Preto, interior de São Paulo, cidade conhecida pelo ridículo apelido (na minha opinião) de “Califórnia” brasileira. Não há nada da cidade norte-americana aqui que justifique a comparação, exceto o calor. Talvez uma pequena “elite” detentora do rodízio do poder e da concentração (desigual e cruel) de renda. Pois bem, por aqui vem ocorrendo um verdadeiro MASSACRE de gatos. Eles são envenenados (tem coisa mais covarde?). Neste final de semana, passeata para protestar. Esses gatos vivem sem incomodar ninguém num bosque da cidade. Recebem apoio de organizações que providenciam a castração, vacinação e alimentação dos felinos. Resumindo: não são gatos em proliferação, nem pragas urbanas. Eles apenas vivem ali. Muitos, aliás, visivelmente de “raça”, são fruto do abandono de pessoas que não os queriam mais. No Coliseu, esses gatos virariam cartão postal. Aqui, viram cadáveres.

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Gatos, cães, furões, animais domésticos..., idosos, deficientes físicos e/ou mentais, bebês. Dá pra colocar tudo no mesmo balaio? De certo modo, acredito que sim. A incapacidade de nossa sociedade de lidar com o “indesejado”, com o que pode “atrapalhar” algum projeto de vida imaginado, enfim, de lidar com a frustração e com a limitação é gritante. Visite um asilo de idosos. Pergunte a algum interno se tem filhos, família... Muitos dirão que sim. Pergunte quando ele recebeu a última visita... A maioria, constrangida,   irá inventar a ocupação, a distância, as exigências de trabalho dos seus. Porque é menos doloroso crer que ninguém o visita porque não PODE do que porque NÃO QUER.

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Ninguém quer ser diferente, indesejado, rejeitado, evitado por ser apenas quem é. Seremos todos velhos um dia, se continuarmos vivos. Com pedigree ou não, podemos ser abandonados. Se você está discordando, dizendo ser impossível, repense. Ninguém sabe de seu futuro e nem seu dinheiro poderá te livrar da solidão. Talvez ele te proporcione uma casa de repouso mais refinada, mas não a sua casa, muito menos a proximidade com os seus.
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E seguimos fingindo que gatos são gatos, bebês são bebês e idosos são idosos. Como se o abandono “justificado” em exercício em nossa sociedade fosse algo aceitável. Voltamos à uma era obscura da História, quando os indesejados era jogados do alto de um penhasco? Não, “evoluímos”... No século XXI, matamos na surdina ou deixamos que a morte venha algum dia, sem que precisemos lidar com ela. Como se nada tivéssemos a ver com o fato. Até quando?

Fica esperto, bichano, não há lugar pra gente por aqui!

Teve um cara, um certo tempo atrás, que estruturou um império imenso baseado nesse tipo de "limpeza" social. Ele matou cerca de 6 milhões de judeus, homossexuais, ciganos, deficientes, idosos e crianças. O nome do cara era Hitler. E ele era super apoiado pela maior parte do povo. Pra pensar.













Um comentário:

Eliani disse...

Ju,estamos vivendo em um mundo muito materialista ,individualista onde o legal é ter poder.Para isto,a corrupção corre solta.Não se investe em educação e valores humanos.Lembro-me de uma matéria que tinhamos na escola que chama-se Educação Moral e Cívica,onde aprendiamos a tratar as pesoas mais velhas de Senhor ou Senhora,respeitar o que não é da gente, e por aí vai.....deturpada depois pela ditadura. O incentivo ao consumismo é muito grande e para que os menos favorecidos possam participar, simplesmente cada um dá um jeito e como não há valores dignos. usa-se o que lhe parece mais fácil... Infelizmente os governantes em cada escala de responsabilidade e poder são diretamente responsáveis.