domingo, 13 de fevereiro de 2011

A uma rapariga (Florbela Espanca)

Retrato de Florbela por Bottelho (2008)
A uma rapariga (de Florbela Espanca)
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Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.
Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!
Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!
Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste duma flor!…

Num mundo truculento, que falta faz a faceta mais complexa, profunda e imponderável de uma mulher: a coragem (ousadia?) de amar. De provar frutos, de encarar a vida, de entregar-se à própria sina, seja qual for...
Numa palafita ribeirinha, numa oca, no sertão, nos pampas, numa aldeia da China, nas maternidades equipadas das grandes metrópoles, num campo de refugiados...não importa. No dia de hoje, eu presentearia com esta poesia cada menina recém-nascida de nosso planeta.

Um comentário:

Eliani disse...

Ju, adoro a Florbela Espanca.De vez em quando procuro poesias dela. Muito legal esta.