
Pensamentos que reúnem um tema
Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar,
Na tranqüilidade dos que esqueceram a memória
E nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar.
Estou pensando nos que vivem a vida
Na previsão do impossível
E nos que esperam o céu
Quando suas almas habitam exiladas o vale intransponível.
Estou pensando nos pintores que já realizaram para as multidões
E nos poetas que correm indefinidamente
Em busca da lucidez dos que possam atingir
A festa dos sentidos nas simples emoções.
Estou pensando num olhar profundo
Que me revelou uma doce e estranha presença,
Estou pensando no pensamento das pedras das estradas sem fim
Pela qual pés de todas as raças, com todas as dores e alegrias
Não sentiram o seu mistério impenetrável,
Meu pensamento está nos corpos apodrecidos durante as batalhas
Sem a companhia de um silêncio e de uma oração,
Nas crianças abandonadas e cegas para a alegria de brincar,
Nas mulheres que correm mundo
Distribuindo o sexo desligadas do pensamento de amor,
Nos homens cujo sentimento de adeus
Se repete em todos os segundos de suas existências,
Nos que a velhice fez brotar em seus sentidos
A impiedade do raciocínio ou a inutilidade dos gestos.
Estou pensando um pensamento constante e doloroso
E uma lágrima de fogo desce pela minha face:
De que nada sou para o que fui criada
E como um número ficarei
Até que minha vida passe.
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Hoje descobri esta poetisa, Adalgisa Nery (1905-1980), autora do texto acima. Ela também é a mulher retratada por Portinari na imagem acima (chique de doer!). Sei que deveria, mas não tenho vergonha de confessar que nunca havia sequer ouvido falar dela. Uma perda que tentarei compensar.
Simplesmente amei o poema acima. E é essa capacidade de dizer o indizível, de expressar imagens em palavras, sentimentos em vírgulas que admiro tanto nos escritores/poetas.
(...) De que nada sou para o que fui criada
E quem é?
Um comentário:
Jú,
Amei o poema! Estão estamos as duas descobrindo novas poetisas...
Beijos,
Má
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