quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Renascidos da terra

 O menino brincando com a terra aí acima é o Byron. Ele e seu primo são filhos de dois irmãos trabalhadores de uma mina no Chile e que ficaram soterrados a cerca de 600 metros abaixo da superfície. Byron passou as últimas semanas com a mãe, a tia e o primo aguardando o resgate de seu pai e tio. Não se deixe enganar por este momento de calmaria da foto. Este menino passou semanas sem saber se veria novamente seu pai e seu tio. Ouviu tudo ao seu redor: termos técnicos assustadores e as palavras morte, risco, asfixia, fome, dor, desnutrição, estresse, medo, loucura...Acompanhou o desespero da mãe, da tia, do primo e o seu próprio. Viu homens fortes e poderosos com ar de desespero.
 O pai de Byron tinha um  trabalho desumano. As condições eram péssimas e perigosas. Não podia sequer reclamar sob pena de perder seu sustento.

 Quando se estabeleceu contato via uma sonda com os mineiros aprisionados nas entranhas da terra, Byron pode ver os olhos de seu pai, numa inversão cruel de papéis. Byron agora era um pai que acompanhava aflito o ultrassom do "filho" em gestação. Tal qual um cordão umbilical, uma sonda foi instalada para o envio de suprimentos para os mineiros. Alguns escreveram cartas e enviaram pela sonda. Porque em um momento crítico e talvez derradeiro o ser humano precisa comunicar-se, dizer de seu amor, protestar, consolar, deixar uma mensagem, contar de si... A comunicação também ajuda a suporta o enlouquecer da situação.
 .
Semanas se passaram. E na virada do dia 13, assisti ao vivo pela TV a saída do primeiro mineiro. E era o pai de Byron. Ao lado da mãe, ambos de capacete e coletes de segurança, Byron não parecia um menino qualquer, exceto por segurar um balão com a bandeira do Chile. Ele era um filho aguardando o parto do próprio pai. Era pai e filho ao mesmo tempo. Impossível não se emocionar ao ver o reencontro de Byron com seu pai recém-nascido da terra. Todos choraravam e abraçavam o mineiro ainda aturdido por tudo que passou.


O Chile está em festa. Byron voltou a ser o filho de Florencio (será?), que passa a comemorar seu aniversário no dia 13 de outubro.
Impossível não pensar que se somos capazes de uma operação de resgate dessas, também podemos ser capazes de criar métodos de evitar tais acidentes...





9 comentários:

Ana Carolina Oreana disse...

Tragédia em cima de tragédia, onde a gente vai parar? É como dizem: "Devemos viver nossos dias como se fossem os ultimos." Seu blog está linkado ao meu profª, ótimas postagens... =*

Ju disse...

Oi, Carol, muito obrigada!
Sim, devemos aproveitar o hoje, é o que temos afinal. MAs....lutarmos para que os trabalhadores tenham mais segurança em qq ofício!
Fiquei com uma dúvida: foi minha aluna? IMpossivel saber quem é com esse boneco gigante no rosto rsrsrs.
Valeu pelo link. Se quiser, tem selinho no blog, ta?
Beijos e comente sempre!

Anônimo disse...

Ju, achei muito verdadeiro e muito poético... Comovente a maneira como vc colocou a situação toda. E para cada um dos 33 deve ter uma história tão simbólica e tão real, que vc saberia traduzir bem... Bjos.

Patrícia disse...

Juliana, o seu relato me emocionou novamente com a cena já vista, tão poético em descrever o especial reencontro do pai e do filho. Filho que esperava o pai renascer... Obrigada!

Ju disse...

Patricia, eu que agradeço a sensibilidade de sua leitura e a generosidade do comentário.
Venha sempre, a casa é sua!
Bjs

Ana Carolina Oreana disse...

Fui sim, haha é pq essa foto é meio conveniente para meu blog =D
Mas fui sim, aluna do claretiano, aquela que comentou seu blog na facul, foi meio correndo mas beleza :D

Ju disse...

C@arol
Lógico que sei! Depois que entrei no seu blog eu saquei quem era. Lógico! Aluna inteligente e plugada, não esqueço não!
Ri muito com seu blog,comentei lá!
Beijos

Eliani disse...

Ju, você escreve muito bem ! Emocionante a forma como abordou a trágica situaçao e terminou de maneira brilhante ao dizer"-*Impossível não pensar que se somos capazes de uma operação de resgate dessas, também podemos ser capazes de criar métodos de evitar tais acidentes...*-Capitalismo selvagem emburrece quando é conveniente.

Eliani disse...

Ju, você escreve muito bem ! Emocionante a forma como abordou a trágica situaçao e terminou de maneira brilhante ao dizer"-*Impossível não pensar que se somos capazes de uma operação de resgate dessas, também podemos ser capazes de criar métodos de evitar tais acidentes...*-Capitalismo selvagem emburrece quando é conveniente!