sexta-feira, 24 de abril de 2009

"Somos que podemos ser/ sonhos que podemos ter"


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Vejam que notícia triste:


"A atriz inglesa Stephanie Parker, de 22 anos, foi encontrada enforcada em um campo de Pontypridd, ao sul de Gales, provavelmente vítima de suicídio.
Desde os seus sete anos, ela atuava na série 'Belonging', da BBC, cujo capítulo final passou há poucos dias na emissora, antes do trágico acontecimento.
A porta-voz da BBC Gales, Clare Hudson, afirmou o seguinte: "Parker teve um papel muito importante na série". Estou segura de que os fãs do programa ficaram em estado de choque, quando souberam dessa triste notícia".
Por enquanto o caso está sendo investigado pelas autoridades locais, mas tudo indica que foi mesmo suícidio, pois a jovem atriz ficou bastante
deprimida quando soube do cancelamento do seriado"

FONTE: yahoo news

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É lógico que ver uma menina de 22 anos, com o mundo pela frente, tirar a própria vida é sempre chocante. Mas ao ler o motivo alegado, parei para pensar um pouco no que, facilmente, permitimos nos transformar. A idéia que me ocorre é que "somos o que fazemos", "somos o que representamos" (literal e metaforicamente). Perder esta identidade, esta representação social, ser descartado é algo tão doloroso que levou esta jovem a preferir deixar a vida.

Muita gente vai pensar na vaidade humana, no ego inflado pela fama e nas facilidades de vida que a fama deve ter trazido à atriz e seus familiares, devido ao seu papel num seriado de TV. Mas não creio que tenha sido algo tão fútil apenas. Acho que desistir de viver implica, necessariamente, numa análise dolorosa e desesperançada de camadas mais profundas deste viver. No caso, imagino que ser reconhecida, atuar e estar no ar era fator crítico para a vida desta menina. Perder isso era perder o ar que respirava. Senti muita compaixão por ela, mesmo sem saber que era, porque de fato perder, frustrar-se, ver sonhos destruídos são coisas duras e cruéis que fazem parte do repertório da vida adulta.

Mesmo com uma sólida estrutura psíquica, abalamo-nos. Caímos como crianças, choramos até dormir de exaustão quando vemos nossos sonhos caírem por terra, quando nossos projetos não vicejam. O baque derruba qualquer um.

Uma hora enxugarmos as lágrimas (que não resolvem mesmo) e graças à resiliência, em meio à dor, percebemos outro foco de luz, outro sonho (talvez mais possível!), outro viver dentro da mesma vida. Renascemos como a fênix. Infelizmente, renascer não significa imunizar-se de outra frustração, outra perda e assim vamos indo...de mortes em mortes, de lutos em lutos e de renascimentos em renascimentos.

Sempre sinto muita compaixão pelo suicída, pois é preciso uma frieza, uma desesperança absoluta para realizar o ato derradeiro. É preciso não conseguir ver mais nenhuma outra alternativa que não aquela. É preciso aprisionar-se na idéia da partida. É preciso desistir de absolutamente tudo: nunca mais ir ao cinema, nunca mais ver seus filhos, sobrinhos, pais, irmãos, de sentir saudade para sempre.

Essa era a Stephanie.

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